Número de resgates de trabalho escravo explode no Paraná
Sancionada no dia 13 de maio de 1888, a Lei nº 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, marca um dos mais importantes momentos da história brasileira. Com apenas dois artigos, a legislação foi o último passo de um processo gradual para acabar com a escravidão legalizada no Brasil, dispondo o seguinte em seu artigo primeiro: “É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.” O documento, assinado pela Princesa Imperial Regente, Isabel de Bragança, encerrou um período de séculos de legalidade à exploração degradante do trabalho humano. Mas, 135 anos depois, ainda não foi possível romper com o costume escravista arraigado no seio da sociedade brasileira. O Paraná também não escapa.
Nos dias 27 e 28 de março, o Ministério Público do trabalho (MPT-PR), em conjunto com auditores fiscais do Ministério do Trabalho e com o apoio da Polícia Federal, realizou uma operação de resgate no município de Mauá da Serra, no norte do Paraná. Ao todo, 14 trabalhadores (seis deles oriundos do estado do Piauí) foram resgatados em situação análoga à escravidão em pedreiras onde atuavam, com parte dos funcionários vivendo num curral com cozinha e colchões improvisados ao lado de animais, enquanto outra parte vivia em tendas montadas com lonas no local onde realizavam o trabalho.
Para Cristiane Maria Sbalqueiro Lopes, procuradora do Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), o momento atual, com episódios de enorme repercussão nacional e até mesmo internacional , serve como um sinal de alerta para toda a sociedade. “Nós estamos vivendo um momento de repique. Nos primeiros três meses de 2023 tivemos números escandalosos de resgatados da situação de trabalho escravo e todo mundo está fazendo a mesma pergunta: o que está acontecendo? Eu vou dizer que eu não tenho a resposta”, afirmou a procuradora. “Mas o que importa é que as situações de violações de direitos humanos estão vindo à tona, que os resgates estão acontecendo e que medidas estão sendo tomadas pra que isso não volte a acontecer”.
Para a procuradora, é cedo para avaliar se o alto número de resgates é algo que foi represado por qualquer motivo, se é apenas desvio estatístico que os matemáticos poderiam explicar ou se as pessoas estão se conscientizando sobre o trabalho escravo e tendo coragem de fazer denúncias. “Enfim, as hipóteses são muitas e não está fechado ainda o diagnóstico sobre o que está acontecendo”, afirmou ela.
Quanto aos setores onde há mais flagrantes de trabalho análogo à escravidão, a procuradora cita a construção civil e a agricultura, especialmente em trabalhos envolvendo empreitadas específicas, como o período de colheita de uma determinada cultura ou uma construção específica de grande vulto ou em local mais retirado.
Fonte Bem Paraná