Diesel dispara e põe em alerta o segmento de transporte

Depois de um período de quase dois meses sem reajustes, a Petrobrás autorizou aumentos expressivos para os combustíveis, na casa de dois dígitos, provocando uma reação em cadeia junto a empresas da área de transporte, donos de postos de combustíveis e motoristas que trabalham no transporte de cargas. O aumento liberado para a gasolina foi de 19% e ainda maior para o diesel: 25%.
Com os reajustes, em Apucarana, alguns postos comercializavam a gasolina até a R$ 7,65 e o diesel a R$ 6,95 o litro nesta sexta-feira (11). No meio da tarde, aplicativos de melhor preço indicavam a gasolina mais barata vendida na cidade a R$ 6,75.
A Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), já fala abertamente na possibilidade de uma greve nacional de caminhoneiros. A instituição destaca que já havia uma defasagem nos preços pagos pelo frete, na casa de 25%. Com o novo reajuste nos preços dos combustíveis, o reajuste dos fretes pretendidos pelos caminhoneiros fica praticamente inviabilizado, segundo a entidade.
O Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários de Apucarana (SINCVRAAP), por sua vez, diz que os aumentos autorizados pela Petrobrás são absurdos. Para o presidente da entidade, Ronaldo Santana da Silva, embora ainda não se tenha datas marcadas, “uma greve dos caminhoneiros parece inevitável”.
“Esses preços estão absurdos. Estamos todos chocados e parece que o governo perdeu completamente as rédeas. E esse aumento reflete em tudo. Sem dúvida, isso vai gerar uma greve”.
CAMINHONEIROS
AUTÔNOMOS JÁ REJEITAM FRETES SEM REAJUSTE
Independente de greve oficial
da categoria, muitos caminhoneiros autônomos já estão simplesmente se negando a
fazer fretes terceirizados para as empresas transportadoras, caso não haja
reajuste dos valores pagos por quilômetro rodado. É o que relata, por exemplo,
o empresário Luis Bertoli, de Apucarana, proprietário da Trans Apucarana,
empresa que atua no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, com mais de 450
funcionários e outros 150 agregados, que são terceiros que fazem as pequenas
entregas nas grandes cidades, principalmente São Paulo.
Bertoli informa que mesmo tendo uma frota própria de
aproximadamente 80 caminhões, a empresa usa muitos motoristas terceirizados. “E
eles não querem mais fazer os fretes sem reajuste. Eles querem o repasse do
aumento do diesel, de 25%, no valor do frete que pagamos a eles. Mas nós temos
como fazer essa repasse integral no frete porque não conseguimos colocar isso
no valor que cobramos pelo frete de nossos clientes”, explica. Bertoli diz que
ainda precisa fazer mais estudos, mas no máximo conseguiria aumentar em 10% o
valor do frete pago aos terceiros. “Isso vai ter que ser muito bem conversado”,
diz.
O aumento dos combustíveis deve impactar muito no negócio, que
já vem de dois anos difíceis, por conta da pandemia, segundo o empresário.
Bertoli não descarta ter que reduzir os quadros de funcionários em pouco tempo
se a conjuntura não melhorar. “Em 2020, no início da pandemia, tudo parou. Tive
que dispensar 80 funcionários. Depois, no meio do ano, quando saiu aquele abono
de R$ 600, a economia deu uma reagida e até recontratei alguns. Em 2021 o
mercado oscilou muito entre bons e maus momentos, e agora estamos com dois
meses historicamente ruins, encerrados, janeiro e fevereiro. Só no fim de março
vamos ter uma ideia melhor de como as coisas estão”. “Por enquanto, vamos
segurando como dá”.
POSTOS TEMEM PELA FALTA
DE
COMBUSTÍVEIS
Já o empresário Welington Kreb, sócio proprietário do Posto
Avenida e da Frut Norte, explica que nas duas empresas, se viu obrigado a fazer
os repasses do reajuste para os produtos comercializados. “Além do estouro da
alta, estamos enfrentando dificuldades para comprar combustíveis. Pedimos uma
certa quantidade de um combustível e a distribuidora nos manda metade, quando
muito”, revela.
Segundo ele, nesta quinta-feira, dia do aumento anunciado pela
Petrobrás, ele tinha agendado o recebimento de 20 mil litros de gasolina.
Recebeu apenas 5 mil. “Tem sido assim”, reforça. De acordo com Welington, esta
realidade tem sido notada na base da Petrobras em Londrina, que abastece
Apucarana, mas também nas demais bases, como Maringá, Cascavel e também nas
bases distribuidoras de outras bandeiras. “Tem sido um cenário geral”, comenta.
O problema com a possibilidade de falta de combustíveis, pondera
o empresário, gera um outro problema. “Com medo de que falte combustíveis, todo
mundo corre para se garantir e abastecer seus veículos. Com isso, acaba mesma
faltando porque os postos não conseguem repor os estoques. E pior, com todos os
postos fazendo pedidos sem parar, o mercado acaba percebendo e os preços
sobem”, explica.
“E para nós, do posto ou mesmo da Frut Norte, tudo isso é
péssimo, porque somos obrigados a repassar os aumentos. E tudo isso vai
inflacionar todos os preços, afinal, todos os produtos dependem da logística de
transporte para chegar ao consumidor. E isso fica mais caro”, finaliza.