Brasileira em Kiev recebe documento da filha recém-nascida, e família aguarda trem para sair da Ucrânia: 'Questão de vida ou morte'

O casal de
brasileiros Kelly Lisiane Müller e Fabio Wilkes receberam na manhã desta
segunda-feira (28) os documentos que faltavam da filha recém-nascida,
Mikaela - gerada em barriga de aluguel. Com isso, a Embaixada do
Brasil liberou que a família saia da Ucrânia.
Kelly, que é
de Guaratuba, no
litoral do Paraná, explica que essas documentações eram fundamentais para
tentativa de saída do país de forma legal.
"Nosso grupo
de brasileiros, que está com as duas bebês, conseguiu chegar até a Estação
Central de Kiev. A
intenção é pegar um trem para Varsóvia, na Polônia, mas esse trem tem muita
procura, então nós vamos buscar outro trem caso a gente não consiga entrar
nesse. A importância para a gente desse apoio dos outros países é questão de
vida ou morte", disse ela.
Ela foi à Kiev,
junto do marido, para buscar a filha que nasceu no dia 27 de janeiro deste ano.
A família ficou dentro de um abrigo improvisado - oferecido pela empresa que
realiza o processo de fertilização e reprodução humana assistida -
de 40 m².
"Encerrou o toque de recolher que durou
todo o final de semana até hoje às 8h e, à princípio, o próximo toque de
recolher só é às 22h, então, tem uma janela boa e o cenário estava bom. A
embaixada deu sinal verde para a gente se deslocar".
Nesse
abrigo haviam outros 30 estrangeiros de países como Itália,
Alemanha,
Noruega, Turquia e também outros do Brasil. Todos que estavam no local improvisado
foram para Ucrânia para buscar os filhos que foram gerados por
reprodução assistida.
Os estrangeiros,
junto ao casal brasileiro, ficaram na estrutura anti-bombas (um bunker),
localizada no subsolo de um prédio de oitos andares. Ali havia apenas um
banheiro, nenhum fogão, uma cafeteira com pó de café que pode durar até um dia
e algumas camas improvisadas.
"A situação
mudou do nada. Eu não achei que ia ter guerra, na minha cabeça essa guerra não
ia acontecer. O Putin já tinha ameaçado invadir aqui em abril, quando nós
estivemos aqui, e ele recuou.
Kelly e o marido Fabio Wilke estão juntos há
mais oito anos. Ela teve três gestações que não foram para a frente. Depois de
várias tentativas, o sonho quase foi deixado de lado.
O método de gestação de substituição (barriga
de aluguel) deu um novo sentido na vida dos dois, que buscou por clínicas especializadas
na Ucrânia,
que é muito procurada por casais do mundo todo.
Ao g1 MS, ela relatou que chegou à Ucrânia no dia 7 de janeiro para acompanhar o nascimento da filha.
Em Kiev,
o plano inicial era regulamentar a documentação da filha e retornar para casa o
quanto antes, mas o casal precisou passar nove dias em quarentena e lidar com
burocracias que atrasaram o retorno e fez com que estivessem no país durante a
guerra.
Fonte G1