Professoras de jovem autista encontrado morto com sinais de maus-tratos falam ter feito denúncia: 'Parecia que estava pedindo socorro'

Professoras do jovem autista encontrado morto com sinais de maus-tratos dentro de casa relataram ter feito denúncia da situação da vítima ainda em 2018. Elas atuavam na Associação de Proteção aos Autistas de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, onde o menino estudava.

 

O caso aconteceu na sexta (18), quando Rômulo Luiz Fernandes Borges foi encontrado com um ferimento na testa. A mãe e o padrasto da vítima de 19 anos foram presos suspeitos de maus-tratos, e a polícia investiga o caso.

 

"A gente estava prevendo isso. A gente olhava o jeitinho dele, ele parecia que estava pedindo socorro. A gente perde o chão, parece que a gente ficou amarrado e não pôde fazer nada por ele. Eu não sei aonde que parou o procedimento, porque enquanto escola a gente passou para a frente", disse uma das profissionais, Roseli Mainardis.

 

Segundo ela, as professoras passaram à direção da instituição a denúncia depois de perceberem sinais de violência no corpo do jovem de 19 anos, além da mudança no comportamento e baixa frequência nas atividades.

 

Procurada, a Polícia Civil afirmou não ter identificado nenhuma denúncia relacionada ao caso entre 2018 e 2019.

Diante do fato, a professora afirmou não saber em que etapa do processo as informações não foram identificadas pelas autoridades.

 

"Para a gente foi uma situação triste, quando eu vi aquelas fotos [do local onde o menino ficava]. Que eu vi colchão no chão. É muito triste, é inaceitável. A Justiça tem que ser feita, ver quem são os culpados, porque tem que pagar. O menino é inocente", desabafou.

 

As profissionais prestaram depoimento à polícia.

Segundo o advogado da família, o corpo do menino não havia sido velado até a publicação desta reportagem. Ele foi liberado do Instituto Médico-Legal (IML), mas não foi retirado pela família.

 

Sinais de maus-tratos

 

Em depoimento, as professoras afirmaram que Rômulo frequentou normalmente a escola entre os seis e os 15 anos, indo todos os dias. Disseram ainda que a mãe era participativa e que a vítima era calma.

 

Contudo, em 2018, os profissionais da Aproaut perceberam uma mudança nele. O período foi quando a mãe iniciou o relacionamento com o padrasto, segundo as testemunhas.

 

Elas relataram que Rômulo começou a chegar com o olho roxo e sinais de cinta pelo corpo, machucado como se tivesse apanhado.

 

Além disso, ele mudou o comportamento, antes calmo.

As professoras dizem ter confrontado a família e que a mãe afirmou que os hematomas eram de brincadeiras entre a vítima e o padrasto. Depois disso, a família também reduziu a frequência do jovem na sala de aula.

 

Segundo uma das profissionais, no último ano, Rômulo não chegou a frequentar a escola nem por um mês.

Também foi identificada perda de peso no menino. Uma das professoras contou que o uniforme dele chegou a cair durante uma atividade por conta do baixo peso.

 

Também à polícia, vizinhos relataram o casal morava há cerca de dois meses na casa onde Rômulo foi encontrado morto, mas que não sabiam da existência dele, apenas de outros dois filhos do casal.

 

Investigação

 

De acordo com a polícia, a investigação indica que a vítima era amordaçada quando tinha crises e que o jovem estava sendo maltratado desde 2018.

 

O delegado Luís Gustavo Timossi informou que as investigações também vão verificar se houve prática de tortura contra a vítima.

Conforme as primeiras informações, o jovem era mantido em condições degradantes na casa do casal.

 

 A vítima vivia em um quarto instalado em um banheiro desativado, com teto mofado, infiltrações, sem iluminação e sem condições de higiene, segundo a polícia.

 

Conforme a polícia, com a comprovação de que a vítima teve a integridade física exposta a perigo, fato que possibilitou a morte, o casal foi autuado por maus-tratos com resultado morte, em que a pena pode chegar a 12 anos de prisão.

 

De acordo com o delegado, embora haja suspeita de que o jovem tenha sido assassinado pelo padrasto, há necessidade de maior aprofundamento das investigações para total esclarecimento dos fatos.

 

Diante disso, os investigados ainda poderão ser indiciados por homicídio, segundo a polícia.

Timossi explicou ainda que por causa suspeita de que a vítima era agredida de forma recorrente pelo padrasto, a mãe do jovem poderá ser responsabilizada por ter se omitido ao proteger o filho, que era

um jovem extremamente vulnerável.

 

O caso

 

De acordo com a Polícia Militar (PM), a vítima foi encontrada morta com um ferimento na testa.

 

Conforme a PM, a mãe do jovem saiu cedo para trabalhar e deixou os três filhos com o marido, que é padrasto do jovem.

 

Quando ela estava no trabalho, segundo a polícia, o companheiro dela ligou e disse que o filho mais velho dela convulsionou.

 

O homem informou ainda que tentou reanimar o jovem, mas que ele não resistiu e morreu.

 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi até o local e constatou o óbito.

 

Os socorristas perceberam o corte profundo na testa dele e acionaram o Instituto Médico-Legal (IML).

 

Fonte G1

 

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