Custo do autoteste para covid-19 ameaça restringir acesso ao serviço

Apesar da inclusão do autoteste para a
covid-19 no Plano Nacional de Expansão da Testagem (PNE-Teste) logo depois da
aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério
da Saúde ainda não tem planos para a distribuição pelo Sistema Único de Saúde
(SUS). Isso abriu, entre os especialistas, uma discussão sobre a facilidade de
acesso ao exame.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou, ontem,
uma recomendação para que o ministério distribua maciçamente os autotestes.
Mas, na última quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que
o material não será entregue gratuitamente no país. Segundo ele, será
disponibilizado nas farmácias para “a sociedade que tiver interesse em
adquirir”.
Prioridades
O que preocupa os especialistas é que, pelo valor
dos autotestes vendidos nos estabelecimentos de saúde, a população de baixa
renda dificilmente terá acesso a eles. “Na pandemia, o governo decide não
adotar política pública para os autotestes que poderão ser comprados, mas prevê
gastar R$ 495 milhões para comunicação institucional. Não é falta de dinheiro,
é falta de prioridade”, criticou a epidemiologista Ethel Maciel.
Como os autotestes dispensam a estrutura
laboratorial e a execução por parte de profissionais de saúde, é esperado que
tenham preços mais baixos do que os exames feitos em locais especializados. A
Anvisa ressaltou que não tem competência legal para estabelecer o preço-teto de
dispositivos médicos, mas o diretor da agência, Rômison Rodrigues, demonstrou
preocupação com o aumento de preços desses exames por causa da demanda.
“É fundamental que os órgãos de proteção e
defesa do consumidor continuem a realizar ações com o propósito de coibir
práticas de mercado que podem ser consideradas abusivas, uma vez que, a
depender dos preços praticados, tais produtos não serão acessíveis a parcela
considerável da população, o que prejudicará o atingimento do propósito da
política pública do Ministério da Saúde”, disse, durante a reunião que aprovou,
ontem, venda do exame.
Autoexame já faz parte da política de testagem
A política de testagem contra o novo coronavírus no
Brasil ganhou um reforço, ontem, com a incorporação do autoteste de antígeno de
covid-19 pelo Ministério da Saúde. A medida foi implementada pela pasta depois
que a venda do dispositivo foi autorizada, por unanimidade, pela diretoria
colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O exame poderá
ser vendido em farmácia ou estabelecimentos de saúde licenciados. Mas nenhum
autoteste tem registro junto à Anvisa para ser comercializado imediatamente.
A venda do exame, que pode ser feito pela própria
pessoa que o comprou, foi aprovada por unanimidade pela agência reguladora. A
diretora-relatora Cristiane Jourdan levou em consideração o exponencial aumento
do número de casos provocados pela variante ômicron para votar a favor do
autoteste. O voto favorável foi acompanhado pelos diretores Rômison Rodrigues,
Alex Machado Campos e Meiruze Freitas. O diretor-presidente Antonio Barra
Torres não participou do debate.
Horas depois, o Ministério da Saúde anunciava
a incorporação do autoteste no Plano Nacional de Expansão da Testagem (PNE-Teste)
e indicou que o exame servirá como estratégia de triagem. O objetivo é ampliar
oportunidades de testagem de indivíduos sintomáticos e assintomáticos, realizar
o isolamento precoce e interromper a cadeia de transmissão da ômicron.
O público-alvo do autoteste é qualquer
pessoa, sintomática ou não, independentemente do estado vacinal, que tenha
interesse em realizar a autotestagem. A Anvisa recomenda que o exame seja feito
no período do 1º ao 7º dia do início dos sintomas, no caso de presença de alguma
das características da covid-19. Em casos de alguém sem traços da doença, mas
que teve proximidade com um infectado, recomenda-se que o autoexame seja feito
a partir do 5º dia do contato.
A Anvisa reforçou que o autoteste não deve
ser utilizado em caso de sintomas graves, como falta de ar. A partir do
resultado positivo, o ministério recomenda que a pessoa procure uma unidade de
saúde para ser avaliada por profissionais capacitados, que devem confirmar o
diagnóstico e realizar a notificação do caso nos sistemas oficiais.
Fonte Correio Braziliense