MP pede suspensão de pagamento bilionário da Petrobras ao Governo do Paraná: 'Perigo iminente de desvio de finalidade'

O
Ministério Público do Paraná (MP-PR) pediu na Justiça a suspensão, em caráter
de urgência, do pagamento de R$ 1,4
bilhão da Petrobras ao Governo do Paraná, como indenização de um vazamento de petróleo
registrado no Rio Iguaçu, em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
O pedido de suspensão, protocolado em 18 de
janeiro, alega que “há perigo iminente de desvio de finalidade e utilização de
recursos". Até esta quarta-feira (26), a Petrobras havia liberado R$ 441
milhões do valor acordado. O montante será pago em quatro parcelas. Entenda a destinação abaixo.
O acordo judicial que
determinou a indenização foi firmado em setembro de 2021.
O secretário de Desenvolvimento Sustentável, Márcio
Nunes, responsável pela gestão dos projetos selecionados para receber o
dinheiro, nega a possibilidade de aplicação incorreta.
A investigação
A solicitação do MP-PR é embasada em investigação
conduzida pelo Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, Habitação e
Urbanismo (Gaema) que contesta os projetos escolhidos.
“São projetos de mera paramentação, cujo objetivo
principal é a compra de bens sujeitos a depredação, sem previsão de mecanismos
de fiscalização e controle da utilização, que não estão vinculados a qualquer
projeto estruturante que tenha pertinência ao que fora pactuado pelas partes.
[...] Não contemplam a ‘gestão integrada de resíduos sólidos’, uma vez que os
projetos não estão vinculados aos planos e às políticas públicas de gestão de
resíduos sólidos e de saneamento básico”, diz trecho do documento.
Pelo acordo de 2021, o pagamento ao estado era
condicionado a investimentos na proteção, monitoramento e recuperação de
encostas, margens de rios e áreas de mananciais. O Gaema sustenta que os
projetos apresentados pela pasta não contemplam as definições iniciais.
Divisão do dinheiro
No acordo, ficou definido que R$ 928 milhões seriam
para o Governo do Paraná, indo para o Fundo Estadual do Meio Ambiente (FEMA).
O restante, pouco mais de R$ 465 milhões, será
enviado ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos, vinculado Governo Federal.
Os projetos apresentados pela Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável (Sedest) no Paraná (confira abaixo) para
a aplicação dos valores da Petrobras são aprovados pelo Conselho de Recuperação
de Bens Ambientais Lesados (CRBAL), formado por diversas entidades, e que
possuem pelo menos duas cadeiras com indicação do governo.
O que diz a Sedest
Em coletiva de imprensa nesta quarta, o secretário
Márcio Nunes disse que “não existe a mínima possibilidade desse conselho
[CRBAL] burlar o acordo”.
“O
que estamos fazendo é adequar o acordo para a realidade das necessidades do
povo paranaense”, disse Nunes.
Em uma apresentação de quase meia hora, Márcio
Nunes apresentou os projetos que entram na parcela recebida de R$ 441 milhões.
Todos são programas governamentais.
Segundo ele, os projetos foram criados há três anos
e aguardavam fonte orçamentária.
“Não existe meio ambiente sem cuidar das pessoas, e
o combate à pobreza é um pilar dessa secretaria. Porque onde tem pobreza, o
meio ambiente está degradado [..] o estado fez o planejamento de médio a longo
prazo. E nós nos preparamos pra isso, para programas. Não tem [tinha] previsão
orçamentária, não tem recurso destinado, tudo que nós colocamos aqui, são
coisas que o estado precisava fazer, mas não tinha orçamento”.
Alguns dos projetos apresentados pelo secretário
que utilizarão recursos da Petrobras
Aquisição de caminhões de combate a incêndios
florestais
Aquisição de caminhões de coleta de resíduos
Aquisição de caminhões de esgotamento sanitário
Recursos para adequação de estradas rurais
Aquisição para veículos e equipamentos para
atendimentos de unidades de conservação
Perfuração de poços artesianos em áreas rurais
Potencialização do sistema de monitoramento do
Simepar
Questionado sobre os projetos apresentados não
serem direcionados especificamente para ações de conservação, Márcio Nunes
disse que as propostas atendem ao critério de aderência e que caberá à Justiça
definir o impasse.
“Quem vai responder é a PGE [Procuradoria Geral do
Paraná], que está fazendo resposta ao Ministério Público e será apresentada até
o dia 4 de fevereiro, que é o prazo legal. O governo entende que está tomando a
atitude correta”.
Márcio disse, também, que fará um chamamento
público para destinar R$ 120 milhões em atividades específicas de conservação,
termo exigido no acordo judicial com a Petrobras. Ele não informou data para
isso acontecer.
O que pede o MP
Além de solicitar a suspensão dos pagamentos da
Petrobras, a ação do MP-PR solicita à Justiça, entre outros pontos, que todos
os projetos aprovados pelo CRBAL sejam desconsiderados, bem como os membros do
conselho sejam reformulados.
Outros pedidos do Gaema:
Valores que foram depositados pela Petrobras e que
foram eventualmente utilizados sejam restituídos nas contas bancárias;
Que a Petrobras passe a fazer o pagamento das
próximas parcelas em via judicial
Reformulação na composição do conselho para
garantir participação da sociedade civil
Realização de Editais de Chamamento Público para
projetos a serem apresentados pelos entes públicos e representações
Não há data definida para a Justiça acatar ou
recusar os pedidos apresentados pelo Ministério Público.
Fonte G1