EUA acusam Talibã de barrar afegãos que querem sair do país

Os Estados Unidos acusaram o Talibã de manter postos de controle ao redor do aeroporto internacional de Cabul e impedir a saída de afegãos que desejam abandonar o país. O governo americano pediu uma passagem livre no local.
Uma autoridade do Talibã afirmou à agência de notícias Reuters que o grupo está "cumprindo sua palavra" e "facilitando a passagem de saída segura não apenas para estrangeiros, mas também para afegãos" (veja mais abaixo).
Doze pessoas já morreram dentro e ao redor do aeroporto internacional Hamid Karzai desde domingo (15), autoridades do Talibã e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) disseram à Reuters nesta quinta-feira (19).
As mortes foram causadas por tiros e durante tumultos, segundo o talibã que não quis se identificar. Ele pediu às pessoas que ainda estão amontoadas em frente ao aeroporto a voltar para casa caso não tenham o direito legal de viajar. "Não queremos machucar ninguém".
Milhares de pessoas estão tentando fugir do Afeganistão desde que o grupo extremista tomou a capital Cabul e voltou ao poder após 20 anos, com uma ofensiva militar relâmpago de apenas 10 dias que surpreendeu o mundo.
Na segunda-feira (16), milhares de pessoas invadiram a pista, os voos foram interrompidos e as forças americanas assumiram o controle do local (veja mais abaixo).
Agora as pessoas estão se aglomerando do lado de fora, e vídeos publicados em redes sociais têm mostrado pessoas desesperadas tentando pular o muro — algumas com a ajuda de soldados americanos.
Em um deles, filmado na terça-feira (17), uma criança é entregue a soldados que estão do outro lado do muro (veja no vídeo acima). Em outro, uma criança, um homem e uma mulher pendurados tentam argumentar com soldados que estão em escadas.
Postos de controle no aeroporto
O governo americano expressou preocupação na quarta-feira (18) com os postos de controle para cidadãos afegãos na entrada do aeroporto e informações de assédio, apesar das promessas dos talibãs de não adotar represálias.
"Ao que parece estão impedindo a chegada ao aeroporto dos afegãos que desejam sair do país", afirmou a subsecretária de Estado, Wendy Sherman.
"Esperamos que permitam que todos os cidadãos americanos, todos os cidadãos de outros países e todos os afegãos que desejam partir o façam de forma segura e sem assédio", disse Sherman.
O presidente Joe Biden e seus principais funcionários disseram que os EUA estão trabalhando para acelerar a evacuação, mas não informaram quanto tempo ela vai durar nem quantas pessoas serão retiradas do Afeganistão.
Nesta quinta-feira (19), uma autoridade do Talibã afirmou à Reuters que o grupo está "cumprindo sua palavra" ao fornecer total apoio na evacuação de cidadãos estrangeiros e afegãos no aeroporto.
"Estamos facilitando a passagem de saída segura não apenas para estrangeiros, mas também para afegãos", disse o talibã à Reuters.
"Estamos evitando qualquer forma de confronto verbal violento no aeroporto entre afegãos, estrangeiros e membros do Talibã", fez questão de ressaltar a autoridade, que não foi identificada.
Apesar da versão oficial, militantes do Talibã estão intensificando a busca por pessoas que acreditam ter trabalhado para forças se segurança dos EUA e da Otan, inclusive na multidão de afegãos em frente ao aeroporto, segundo documento confidencial da ONU (Organização das Nações Unidas).
O jornal "The New York Times" relata que o documento aponta ameaças de matar ou prender familiares caso os alvos não sejam encontrados, o que contradiz diretamente as garantias públicas do grupo extremista, de que não buscaria vingança.
Caos e mortes na segunda
Na segunda-feira (16), cenas de caos e mortes foram registradas no aeroporto, durante a tentativa desesperada de fuga de estrangeiros e afegãos do país.
Milhares de pessoas invadiram a pista, e algumas tentaram entrar em aviões estacionados e se agarraram a aeronaves prestes a decolar. Vídeos mostram o que seriam pessoas caindo do céu após a decolagem de um cargueiro americano (veja abaixo).
Todos os voos foram suspensos em meio à confusão, e as tropas americanas assumiram o controle do aeroporto e passaram a organizar os voos militares de evacuação de diplomatas e civis junto a outros países. A aviação comercial segue suspensa.
Apesar do esforço do Talibã de tentar se mostrar diferente desta vez, os afegãos recordam a forma como o grupo extremista governou o país entre 1996 e 2001 e não confiam nas promessas de moderação feitas nos últimos dias.
Na época, o Talibã adotou uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica (a sharia), impondo restrições sobretudo às mulheres, que eram impedidas de trabalhar e estudar. As visões islâmicas ultraconservadoras incluíam apedrejamentos, amputações e até execuções públicas.
Fonte: G1