Diretor do Butantan diz que variante similar à sul-africana encontrada no interior de SP preocupa por ser mais resistente às vacinas

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, alertou nesta quarta-feira (7) para os riscos da variante do coronavírus encontrada no final de março em Sorocaba, no interior de São Paulo, que é considerada equivalente à sul-africana (B.1.351). O pesquisador disse que a cepa originária da África do Sul “preocupa muito” por ser a variante que apresenta “maior resistência à neutralização pelos anticorpos induzidos pelas vacinas”.

“Todas as vacinas que estão sendo usadas apresentaram redução em termos de neutralização desta variante, então nos preocupa muito”, disse Dimas Covas em entrevista a jornalistas. 

Estudos feitos com a vacina da AstraZeneca/Oxford na África do Sul mostraram que o imunizante foi menos eficaz contra a cepa que predomina no país. Um estudo preliminar feito por pesquisadores chineses usando amostras de pacientes que receberam a CoronaVac mostrou que a vacina teve uma redução na produção de anticorpos neutralizantes contra a variante sul-africana (B.1.351).

A variante encontrada em Sorocaba não é idêntica à da África do Sul, mas, pela semelhança genética entre as duas, cientistas concluíram que elas são equivalentes. De acordo com os pesquisadores, ela é mais transmissível e tem maior capacidade de “escapar” das barreiras criadas pelo sistema imune.

Um grupo de pesquisadores coordenado pelo Instituto Butantan e pela Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a linhagem identificada em Sorocaba compartilha 15 mutações com a variante sul-africana. No entanto, outras seis dessas mutações definidoras não estão presentes na amostra e nove são exclusivas.

Os pesquisadores destacaram ainda que a mulher que apresentou contaminação pela variante do coronavírus em Sorocaba não tinha histórico de viagem para a África do Sul ou contato com pessoas que viajaram ao país. Por isso, é possível que este vírus já esteja em circulação no estado de São Paulo.

“A pessoa que apresentou essa variante lá em Sorocaba não tinha vínculo epidemiológico identificado com viagem ou com pessoas vindas da África do Sul. Isso desperta uma preocupação, porque pode ser que essa transmissão pode ter ocorrido de outras pessoas e, portanto, pode caracterizar uma transmissão comunitária”, disse Dimas Covas.

Ainda de acordo com o diretor do Butantan, é necessário estender a análise genética detalhada do vírus para outras regiões do estado, além de Sorocaba, com o intuito de verificar se a variante se espalhou por São Paulo.

“É o momento de nós estendermos essa genotipagem, não só para a região de Sorocaba, mas para o estado inteiro, e monitorar muito de perto se ela vai se estabelecer ou não. Essa é uma pergunta que precisa ser respondida nas próximas semanas”, completou.


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