Na Argentina, deputados governistas tentam criminalizar aborto, mas porta-voz de Milei diz que tema não está na 'agenda'
Na noite de quarta-feira (8) uma deputada do partido A
Liberdade Avança (LLA), o mesmo do presidente Javier Milei, apresentou no
Congresso da Argentina um projeto de lei para revogar o aborto legal no país,
mas horas depois o porta-voz do governo afirmou que não se trata de iniciativa
do Executivo.
O aborto é legal na
Argentina desde 2020. Rocío Bonacci, autora do projeto de lei para voltar com a
criminalização, afirmou que defende a vida, "nem mais nem menos".
O porta-voz
presidencial, Manuel Ardoni, afirmou em uma entrevista coletiva que uma
iniciativa pessoal da deputada e que a iniciativa "não faz parte da agenda
do presidente e não está sendo promovida pelo Poder Executivo".
Durante a campanha
presidencial, Milei afirmou que é "contra o aborto, porque ele vai contra
o direito à vida".
No entanto, Manuel
Ardoni, o porta-voz de Milei, disse agora que o governo tem temas mais urgentes
e que essa discussão não faz parte das prioridades do presidente.
Na terça-feira,
Milei teve uma derrota na Câmara de Deputados: volta à estaca zero a tramitação
da lei "ómnibus", um megapacote de mudanças estruturais no país.
Organizações
feministas criticaram a iniciativa da deputada e afirmaram que se trata de uma
distração para a grave crise econômica pela qual o país passa, com uma inflação
mensal acima dos 20% (211,4% anual em 2023) e com um nível de pobreza perto dos
50%, segundo estimativas de analistas.
"A
apresentação desse projeto é ridícula", disse à AFP Victoria Tesoriero,
ativista da Campanha pelo Direito ao Aborto Legal, organização impulsionadora
da lei vigente.
"Não vão nos
usar de cortina de fumaça neste contexto, quando o governo acaba de ter uma
derrota política no Congresso e enquanto há recessão econômica, se liquida o
salário com a inflação descontrolada e há repressão aos protestos",
afirmou.
A lei de
Interrupção Voluntária foi aprovada em dezembro de 2020 e posta em prática em
janeiro de 2021 depois de um debate que polarizou a sociedade argentina e
atravessou transversalmente todas as forças políticas.
A legislação
contempla a possibilidade de abortar até 14 semanas completas de gestação sem
ter quer explicar os motivos, assim como quando a gravidez é resultado de um
estupro ou se coloca em perigo a saúde ou a vida da pessoa gestante.
A lei vigente
também prevê assistência médica e gratuita da atenção pós-aborto, mesmo que a
interrupção tenha ocorrido em situações não previstas na lei, além do acesso a
métodos contraceptivos.
Fonte G1