Juiz nega pedido para obrigar Hospital São Camilo a colocar DIU: 'Ninguém precisa procurar instituição católica'
A Justiça de São Paulo negou um pedido liminar da Bancada Feminista do
PSOL na Câmara Municipal para que o Hospital São Camilo parasse de recusar a
aplicação do método contraceptivo DIU sob justificativas religiosas.
O juiz Otavio Tioiti Tokuda, da
10ª Vara da Fazenda Pública, disse que, ainda que o hospital receba recursos
públicos para o atendimento gratuito à população, "seu estatuto social
deixa claro que se trata de uma associação civil de direito privado, de caráter
confessional católico".
Para advogado do PSOL, as
mulheres têm direito ao acesso universal à saúde.
"O direito que se busca ver
tutelado é, antes de tudo, o acesso universal a saúde preconizada na Carta
Magna. Uma vez sendo a saúde um direito fundamental, e a prestação de seu
serviço ser atividade essencial no sentido jurídico do termo, a tutela
jurisdicional deve ser a mais célere possível"
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"Há outras instituições de saúde que
podem realizar o serviço almejado, não havendo, portanto,
privação de direito pelo Estado, mas imposição de um direito secular de um
indivíduo a uma instituição de orientação católica, o que é inadmissível";
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"Obrigar uma entidade católica a prestar serviço de instalação de
método contraceptivo violaria o direito constitucional de
liberdade de consciência e de crença".
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"A vida é direito inviolável para o católico, inclusive na defesa
do nascituro, e a busca por métodos anticoncepcionais impede o direito à vida,
por mera busca de prazer sexual, situação
que afronta a moralidade cristã".
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O
Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu um inquérito contra o Hospital São Camilo pela rede
se recusar a realizar procedimentos contraceptivos em homens e mulheres por
seguir "diretrizes de uma instituição católica”.
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O
inquérito foi aberto a partir de um pedido da deputada estadual Andréa Werner
(PSB). Conforme o g1 publicou na semana passada, uma unidade do
São Camilo se recusou a colocar um dispositivo intrauterino (DIU) em uma paciente por seguir diretrizes
"de uma instituição católica".
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"Como
deputada estadual e como mulher, recebo com alento a abertura desse inquérito
por parte da Promotoria a partir do nosso ofício. Sobretudo porque, quando um
hospital particular e um plano de saúde recusam atendimento, na prática, o que
eles fazem é mandar aquele(a) paciente para o SUS - o que sobrecarrega o
sistema público enquanto o sistema privado tem autonomia para negar
procedimentos mesmo quando previstos claramente pela ANS", afirma a
deputada Andréa Werner (PSB).
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O caso
aconteceu no dia 23 de janeiro com a produtora de conteúdo Leonor Macedo, de 41
anos.
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Ela
procurou a unidade da Pompeia do hospital, na Zona Oeste da capital, para
implantar um DIU, quando foi informada pela médica que eles não fazem o
procedimento por se tratar de uma instituição religiosa. "Fiquei em
choque, imagina, nunca tinha passado pela minha cabeça que em 2024 isso poderia
acontecer e que as coisas ainda eram tão atrasadas assim", afirmou.
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Em nota a
rede São Camilo informou que “em todas as unidades a diretriz é não realizar
procedimentos contraceptivos em homens ou mulheres, exceto em casos de risco à
saúde, em alinhamento ao que é preconizado às instituições confessionais
católicas".
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Recusa do hospital
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A
paciente Leonor informou que foi novamente procurada pelo hospital, que disse
que não colocam DIU nem fazem vasectomia. Também teriam dito que o DIU, é
"quase um aborto de um ser vivo", e que o procedimento só é feito em
casos graves, mas não como método contraceptivo.
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De acordo
com o MPSP, "a prática noticiada pode afrontar dispositivos
constitucionais e legais e, por isso, é necessária a investigação dos fatos
pelo Ministério Público. Nos termos do art. 226, § 7º, da Constituição Federal,
o planejamento familiar decorre dos princípios da dignidade da pessoa humana e
da paternidade responsável, e o Estado deve proporcionar os recursos
educacionais e científicos para o exercício do direito ao planejamento
familiar, sem qualquer forma de coerção".
O órgão argumenta também que a negativa de realização de
procedimentos contraceptivos "pode representar ofensa ao princípio da
dignidade da pessoa humana e pode acentuar indevidas exclusões sociais, na
medida em que não assegura o direito à saúde e ao planejamento familiar".
Dentre os pedidos, o MPSP deu 15
dias para a Sociedade Beneficente São Camilo se manifestar sobre a
investigação. A órgão pediu que a rede esclareça se a recusa a procedimentos
contraceptivos é também aos pacientes que buscam a rede pelo SUS e aos clientes
do plano de saúde São Camilo.
O dispositivo intrauterino (DIU)
é um dos métodos contraceptivos disponíveis de graça no Brasil pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), com eficácia superior a 99%.
O Hospital São Camilo foi
inaugurado em 1960 por religiosos camilianos que haviam criado, em 1935, a
Policlínica São Camilo.
O Brasil é um país laico e, desde
janeiro de 1890, é proibida por lei a intervenção da autoridade federal e dos
estados em matéria religiosa, consagrando a plena liberdade de cultos.
Fonte G1