Com a morte de Zé Celso, Brasil perde um dos maiores dramaturgos da história do país

José Celso Martinez Corrêa, fundador de uma das mais importantes companhias brasileiras de teatro, morreu em São Paulo nesta quinta-feira (6), aos 86 anos. Ele estava internado havia dois dias com queimaduras no corpo. Na terça-feira, o apartamento dele pegou fogo.

Zé Celso é o principal fundador do Teatro Oficina, em 1958, em São Paulo e fez dele seu palco principal.

Ele saiu de Araraquara, no interior paulista pra ser advogado, mas virou um revolucionário do teatro e se orgulhava do título que recebeu:

"Eu tive a honra de mãe Stela, da Bahia, me conceder a honraria de ser um Exu Senhor das artes cênicas".

Com a morte dele, o Brasil perdeu, hoje, um dos maiores dramaturgos da história do país.

Obras, histórias e a vida do dramaturgo

Em mais de seis décadas, Zé Celso dirigiu e atuou em peças que transformaram a nossa dramaturgia.

A primeira peça de Zé Celso surgiu em 1958, na forma de canção. Logo voou mais alto, criando o Grupo Oficina.

Achou na Rua Jaceguai o espaço ideal para se expressar. A "Vida impressa em dólar" deu a ele o prêmio de diretor revelação. Vieram "Pequenos Burgueses", "Angorra", até que um incêndio, em 1966, marcou o fim de uma fase. E o recomeço foi com a montagem de "O Rei da Vela".

Anarquia, transgressão, vanguarda - tudo se encaixava na rebeldia da época.

O teatro feito por Zé Celso virou ícone da Tropicália. Num ritual provocador, ele incitava o público a participar do espetáculo.

Foi alvo de críticas. Em 1968, um grupo do comando de caça aos comunistas invadiu o Teatro Galpão, onde Zé Celso apresentava a peça "Roda Viva", de Chico Buarque.

Artistas foram agredidos e o teatro depredado. Zé Celso retornou aos palcos com "Galileu, Galilei" e foi chamado de louco.

Na década de 1970, transformou o Teatro Oficina em Te-ato, com o palco entre duas arquibancadas.

Vítima da censura, acabou preso em 1974. Depois, foi para Portugal, onde dirigiu um documentário sobre a revolução dos cravos, e outro sobre a independência de Moçambique.

De volta a São Paulo, em 1978, Zé Celso acrescentou "Uzyna Uzona" ao nome do oficina, reinaugurou o teatro em 1993, com reforma assinada por Lina Bo Bardi, e ganhou dois prêmios de direção por Ham-Let.

Montou ainda os "Mistérios Gozosos", de Oswald de Andrade e "Bacantes", de Eurípedes - peça considerada a essência da obra de Zé Celso. Levou para os palcos também "Boca de ouro", de Nelson Rodrigues.

Zé Celso comemorou os 50 anos do oficina, em 2008, com uma "Macumba Antropófaga". Durante décadas, brigou com o empresário Sílvio Santos por causa do terreno onde fica o teatro, tombado pelo patrimônio histórico.

Foi retratado num filme-biografia, que ganhou o nome de Evoé, o grito festivo com que as bacantes evocam Dionísio, deus do vinho, para as pessoas em geral, mas, para Zé Celso, o deus da "eternidade da vida presente".

Em abril de 2022, Zé Celso dirigiu a peça Esperando Godot, clássico de Samuel Beckett, que foi encenado pelos atores Alexandre borges e Marcelo Drummond.

No último dia seis de junho, celebrou no Teatro Oficina o casamento com Drummond - companheiro de vida e de palco há quase 40 anos.

Fonte G1



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